domingo, 29 de março de 2020

A Dança da Trindade - Pericorese



Deus é dinâmico, é eternamente movimento. Deus é amor e ama antes de todas as coisas existirem, sempiterno amor, ele sempre ama e sempre amou. Seu amor é dirigido a si mesmo, eternamente. 
Vamos falar sobre isso. Os teólogos antigos usavam excelente ilustração da  dança: uma dança da comunhão perfeita. Os antigos a chamaram de pericorese. Isso fala  a respeito da Diviníssima Trindade em seu dinamismo, vitalidade e energia.
Sabemos que a doutrina trinitária  ensina que Deus é um só, mas que é constituído de três pessoas distintas. E existe uma relação  animada, viva, enérgica entre as três pessoas. Essa relação dinâmica é chamada de pericorese. Vamos ver do que se trata e que implicações isso tem para a Igreja hoje.
Pericorese é um termo grego, encontrado pela primeira vez na literatura patrística,nas obras de Gregório de Nazianzo. Ele foi um dos grandes defensores da doutrina da Trindade.
Vamos ao termo.
Pericorese ( περιχώρησις - Perichoresis ) é um termo grego, que 
descreve uma dança de roda, característica das crianças em momento de brincadeiras.
A) peri, que significa “movimento circular”
B) corea, que significa “dança”, (coreografia);
C) esis, que é um sufixo usado para formar palavras de ação ou processo.

Assim, pericorese era a palavra para o nome de uma dança tradicional em que um grupo de pessoas, geralmente crianças, dançava de maneira circular e de mãos dadas. Uma criança ficava no meio enquanto as outras, de mãos dadas ficavam girando ao seu redor em círculo. Em certo momento a criança que estava no meio vinha para a roda e alguma da roda vinha para o meio.
E isso traz uma  interessante percepção sobre a Trindade.
Outro pai da Igreja, chamado João Damasceno foi mais fundo que Basílio no estudo do termo. Damasceno, (676 d.C., Damasco, Síria) foi um teólogo do período antigo que imaginou a Trindade como uma dança, dança eterna e uniforme. Ele imaginou as três pessoas da Trindade dançando num círculo de mãos dadas.
Ele usa esta antiga dança como uma ilustração à mútua interpenetração e coabitação das três pessoas da Trindade. Ou seja,  as três pessoas da Trindade estão entrelaçadas em uma unidade "circular" em permanente movimento e integração. 
Sobre o conceito de Trindade , o   grande pai da Igreja, Atanásio cita:
A fé universal é esta: que adoremos o único Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, não confundindo as Pessoas, nem separando a substância, pois uma é a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo, mas uma só é a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo; iguais em  glória, eternidade e majestade.
Também outro pai da Igreja explica, Basílio :
O Pai, o Filho e o Espírito Santo igualmente santificam, vivificam, iluminam, confortam e efetuam tudo na mesma maneira. Assim, do mesmo modo, todas as outras operações são igualmente efetuadas nos santos, pelo Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Abraçando estas duas definições de Trindade damos um passo a mais. A pericorese seria então a comunhão entre as pessoas da Santíssima Trindade. Uma comunhão extremamente íntima, perfeita, sem nenhuma confusão ou interferência eterna.
Ela designa uma relação co-igual e co-eterna entre pessoas. Um Deus que é Pai , é Filho e é Espírito Santo. Eles se relacionam perfeita e amorosamente entre eles, de tal forma que o divino círculo parece uma coisa só, porém é formado de três pessoas, numa dança maravilhosa. Esta dança é marcada e compassada pela doce sinfonia do amor, sempre pelo amor que se fundamenta o vínculo da unidade divina.
Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um: eu neles e tu em mim. Que eles sejam levados à plena unidade, para que o mundo saiba que tu me enviaste, e os amaste como igualmente me amaste.
João 17. 20-23
A doutrina da pericorese nos ensina algo muito importante para o cristianismo. Ela mostra que nosso Deus é Deus de relacionamento, de comunhão, de comunicação. Deus ama, ele é amor, e deseja compartilhar este amor com seu povo. É um amor ativo, cheio de vida e energia. Deus não se isola em si mesmo, ele cria e se relaciona com sua criação.
E Deus nos chama para uma vida assim.  Nada em Deus chama para o isolamento, para desigualdade, para orgulho, para vaidade ou demonstração de poder pessoal. Pelo contrário, somos chamados para a partilha, para o relacionamento e para uma fraternidade rica em comunhão. Somos chamados para uma vocação excelente, a vocação de amor. A comunhão entre a igreja é a principal característica deste amor e é o primeiro objetivo da nossa união com Deus. Precisamos estar unidos, com Deus e com nossos irmãos. Por meio de Jesus, todos podemos ter união com Deus e uns com os outros e , de certo modo, também participar desta unidade em amor. Deus é Trino e perfeito e nos chama para participar, em alguma medida, desta perfeição.
É como se Deus nos chamasse para fazer parte de um círculo que inclui Deus, os anjos e toda a igreja, para sermos uma unidade em santidade, alegria e glória para todo sempre.Uma dança dinâmica, perfeita e harmoniosa.