segunda-feira, 8 de junho de 2020

Primeiro Livro de Enoque

 

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Livro de Enoque (também chamado 1 Enoch;[1] em ge'ez: መጽሐፈ ሄኖክ, mätṣḥäfä henok), grandemente conhecido pela sua versão em etíope e mais tarde pelas traduções gregas dos capítulos I-XXXII, XCVII-CI e CVI-CVII, bem como de algumas citações importantes feitas por Jorge Sincelo, autor bizantino, teria sido escrito por Enoque, ancestral de Noé, contendo profecias e revelações.
Em Qumram, foram encontrados na Gruta 4, sete importantes cópias que foram atestadas pela versão etíope. Estas cópias embora que não idênticas na totalidade foram encontradas em conjunto com cópias do Livro dos Gigantes referenciadas no capítulo IV do Primeiro livro de Enoque.
As cópias de Qumram foram catalogadas com as referências 4Q201-2 e 204-12 e fazem parte da herança deixada pela comunidade Nazarita do Mar Morto, em Engedi.

Composição

Segundo Nickelsburg e Vanderkam a composição dos primeiros capítulos aconteceu a partir do terceiro século antes de Cristo.
A 3 inclui materiais retirados dos cinco livros de Moisés. R.H. Charles cita o seguinte exemplo:
Deuteronômio 33:2 Disse pois: O SENHOR veio de Sinai, e lhes subiu de Seir; resplandeceu desde o monte Parä, e veio com dez milhares de santos; à sua direita havia para eles o fogo da lei.
1 Enoque 2:9 Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos; para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade, que impiamente cometeram, e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele.

Datação dos manuscritos

A datação paleográfica datou estes documentos de Qumram entre 200 a.C. e o fim do primeiro século da era cristã.

Conteúdo da versão aramaica de Qumram

Existem muitos excertos aleatórios no livro que estão descontextualizados ou simplesmente não fazem sentido. Fazendo uma breve referencia ao conteúdo dos excertos que fazem sentido no livro, estes resumem-se da seguinte forma:
  • 4Q201 – Enumera os nomes em aramaico dos vinte chefes dos anjos caídos;
  • 4Q206 – Este é o mais divergente com a versão etíope;
  • 4Q209 – Chamado Livro Astronômico, é consideravelmente mais longo que a versão etíope.
Conteúdo da versão etíope (versão copta).
  • 1–36 O Livro dos Vigilantes (ou Sentinelas, ou ainda, Observadores)
  • 37–71 O Livro de Parábolas (também chamado: O Similitudes de Enoque)
  • 72–82 O Livro Astronômico
  • 83–90 O Livro dos Sonhos
  • 91–108 A Epístola de Enoque

Comparação das versões

Existem diferenças notórias, embora que parciais, na estrutura das versões do Primeiro livro de Enoque. A parte astronômica é muito mais desenvolvida na versão etíope que na versão de Qumram. Por outro lado a secção do Livro das Parábolas dá mais ênfase a sua especulação a respeito do Filho do Homem na versão do Qumram do que na versão etíope. Existem outras inúmeras divergências estilísticas, colocadas provavelmente pelos diferentes tradutores que trabalharam as obras na altura.

Canonicidade do livro

O livro não foi incluido no cânon da Bíblia judaica, e também na Septuaginta[carece de fontes], nem nos livros deuterocanônicos. Embora, Francisco (2003) confirma que uma das mais antigas bíblias coptas, a Bíblia Etíope, admite o Primeiro livro de Enoque. São Jerônimo, ao criar a primeira bíblia cristã em língua latina, a Vulgata, decidiu copiar o Velho Testamento dos judeus acreditando que era autêntico o que os judeus consideravam como tal. No entanto, já na época de São Jerônimo, a Igreja nas suas assembleias não fazia uso do livro como inspirado, mesmo que alguns autores cristãos o citam em seus escritos. Por essas razões, o livro não faz parte da bíblia cristã.
O Livro de Enoque foi citado na Epístola de Barnabé (16:4) e por muitos dos primeiros pais da Igreja, como Atenágoras, Clemente de Alexandria, Irineu e Tertuliano.
Existem referências possíveis no Novo Testamento ao Primeiro livro de Enoque, entretanto, nenhuma referência é tão evidente como na Epístola de Judas (v.4.6.14). Dom Estêvão Bettencourt julgou que "A epístola canônica de S. Judas 14 o cita, mas nem por isto o tem como livro inspirado".[4]
  • "Enoque, o sétimo depois de Adão" é uma citação de 1En.60.8
  • "Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos.." de 1En.1:9 (de Deut.33:2)
  • Atipicamente, "E destes (genitivo) profetizou também Enoque" (Almeida) é "E a estes (dativo) profetizou também Enoque" em grego.
Pode-se também comentar uma certa semelhança entre a descrição da "morada dos mortos", apresentada no capitulo 22 do Primeiro livro de Enoque, com a parábola do homem rico e Lázaro, contada por Jesus em Lucas capitulo 16, nos versos 19 a 31. No entanto, enquanto a descrição do livro de Lucas traz uma separação entre o "seio de Abraão" (aonde estão as almas dos justos) e o hades (onde se encontram as almas dos ímpios), a descrição do Primeiro livro de Enoque sobre a morada dos mortos traz quatro cavernas criadas para abrigar as almas daqueles que morreram, havendo uma caverna dedicada as almas dos justos (onde jorra uma fonte de águas límpidas), e três cavernas separadas a três grupos de ímpios: pecadores que não sofreram sentenças em vida; queixosos que reivindicam justiça por ter morrido nos dias dos pecadores; e homens que não foram justos, mas pecadores e cúmplices dos perversos.
No Diálogo com Trifão, de Justino Mártir (100-165), Justino é claramente influenciada pelo livro, mas o judeu Trifão se opõe a essa tradição. Júlio Africano (200-245) foi um cristão a contestar a tradicional versão do Primeiro livro de Enoque.
Conforme Elizabeth Clare Prophet (2002), foi o rabino Simeon ben Yohai (120?-170?) quem colocou os judeus contra o Primeiro livro de Enoque e que isso permitiu ao Santo Agostinho observar que a obra deixou de fazer parte das Escrituras aprovadas pelos judeus.[5]

Referências


  1. PROPHET, Elizabeth Clare. Anjos Caídos e as Origens do Mal. Editora Nova Era, Rio de Janeiro-RJ, 1ª edicão, 2002. p.70


Nenhum comentário:

Postar um comentário